Porquê que é importante anilhar as aves?

Investigadores de todo o mundo utilizam uma metodologia chamada anilhagem científica. A anilhagem científica é extremamente importante para poder determinar vários parâmetros demográficos, como por exemplo, a longevidade de uma espécie, a idade com que começam a reproduzir-se, taxa de sobrevivência, tamanho e tendência populacionais, entre outras. Para além disso, no caso das espécies migradoras, a anilhagem pode também ser útil para entender os movimentos migratórios.

Mas em que consiste? A anilhagem científica consiste na marcação individual das aves através da colocação na pata de uma anilha metálica com um código único. Este código é o seu “bilhete de identidade”, permitindo identificar individualmente cada ave anilhada. Estas anilhas diferem entre espécie, dado que têm que estar adaptadas ao diâmetro da pata de cada espécie e aos habitats que utilizam durante o seu ciclo de vida. Por exemplo, as anilhas das aves marinhas são geralmente de aço inoxidável para poder resistir à corrosão causada pelo salitre e pelo sol durante vários anos, dado que as aves marinhas passam a maior parte da sua vida no mar e são animais que vivem muitos anos. Após a libertação da ave anilhada é possível identificar este individuo caso este seja recapturado ou encontrado morto em qualquer outra parte do mundo. Em Cabo Verde, vários investigadores já anilharam milhares de aves marinhas. Em 2019 foi recapturado um Pedreirinho anilhado em 1999 pelo investigador português Luís Monteiro há 20 anos atrás (ver blog anterior)!

Existem outros tipos de anilhas que podem ser colocadas simultaneamente com as anilhas metálicas e que permitem identificar um individuo à distância. É o caso das anilhas Darvic que podem ser coloridas e ter um pequeno código de letras e/ou números de grande tamanho para serem lidos a grande distância. Este tipo de anilhas permite identificar individual as aves observando-as com binóculos ou através de fotografias sem perturbar os animais. Sendo, portanto, bastante úteis para estudar parâmetros demográficos como por exemplo a taxa de sobrevivência de uma população ou para entender os movimentos de indivíduos entre colónias. Em Cabo Verde, estas anilhas estão a ser colocadas no Alcatraz, dado que é uma espécie que nidifica no chão e não em buracos e ao ser uma espécie de grande tamanho, pode-se colocar anilhas grandes com letras bem visíveis, facilitando a sua leitura.

Fêmea e cria de Alcatraz em Raso. Pode-se ver que a fêmea (à esquerda) tem uma anilha metálica na pata direita e uma anilha Darvic na pata esquerda.

Este tipo de anillamento permitiu verificar que um imaturo de Alcatraz anilhado a 31 de março de 2019 Baluarte (Boavista) foi avistado 9 meses mais tarde nas águas perto de Guiné Bissau a 870 km da colonia (ver foto abaixo). Esta informação é bastante interessante e contrastante com o comportamento dos adultos desta espécie que nidificam em Cabo Verde, dado que estes são residentes, ou seja, passam todo o ano sem sair do arquipélago.

Fotografia do avistamento desde barco de juvenil de Alcatraz nas águas perto de Guiné Bissau a 870 km da colónia em que foi anilhado.

Se encontrarem, observarem ou fotografarem alguma ave anilhada por favor contatem-nos e/ou enviem-nos as fotografias indicando-nos o local e a data. Estas informações são valiosas. Contamos com vocês! Aproveitamos para desejar a todos um Bom Natal e um Feliz Ano Novo!

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Onde se alimentam as aves marinhas de Cabo Verde?

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