Onde nidificam? 

Mapa

Brava

Brava é a ilha localizada mais a sudoeste de Cabo Verde. É uma ilha pequena, mas muito verdejante, conhecida pelas suas flores e pela sua história de baleeiros.

Nesta ilha a informação sobre a diversidade de aves marinhas que lá se reproduzem é muito escassa. Sabe-se que os Alcatrazes nidificam em locais bastante inacessíveis, mas que são facilmente vistos desde o próprio porto de Furna. No entanto, a população local também refere a existência do Rabo-de-Junco, da Cagarra e do Pedreiro. Na Brava, as aves marinhas poderão estar expostas à predação por animais invasores como os gatos e a as ratazanas e possivelmente à interacção com os barcos de pesca. Nesta ilha a captura humana de aves marinhas para o seu consumo é ainda uma ameaça actual.

© Sarah Saldanha

© Sarah Saldanha

Ilhéus Rombo

Os ilhéus Rombo são constituídos por 5 ilhéus desabitados de uma beleza única: ilhéu Grande, ilhéu de Cima, ilhéu Luíz Carneiro, Ilhéu Sapado e Ilhéu do Rei. Estes ilhéus são importantíssimos para as aves marinhas de Cabo Verde, com grandes colónias de Pedreiro, João-Preto, Pedreiro-Azul e Pedreirinho e alguns casais de Rabo-de-Junco. O Alcatraz também nidificava nestes ilhéus, no entanto actualmente não existe nenhum ninho desta espécie devido à forte captura humana que sofreu no passado.

Nos ilhéus Rombo, existem duas grandes ameaças: o rato e a destruição de habitat. Existem milhares de ratos nalguns dos ilhéus Rombo, introduzidos acidentalmente pelos humanos. Estes ratos poderão predar os ovos e as crias das aves marinhas, afetando o sucesso reproductor e o tamanho populacional das espécies que aqui se reproduzen. Estes ilhéus são frequentemente visitados por habitantes locais, principalmente pescadores, que ao caminhar no ilhéu destroem os ninhos frágeis das aves marinhas. Durante estas visitas, poderão também capturar alguns indivíduos e constituem uma ameaça permanente de introdução de ratos, ratazanas e outras espécies exóticas.

© Jacob González-Solís

© Jacob González-Solís

Fogo

O Fogo é a mais recente e também a única ilha vulcânica ativa do arquipélago de Cabo Verde, situada perto da extremidade ocidental do conjunto sul de ilhas. Apenas a ilha Brava está localizada a oeste, mas os elementos vulcânicos expostos são visivelmente mais antigos que os do Fogo. A ilha do Fogo eleva-se cerca de 6 km acima do fundo oceânico e atinge os 2829 m acima do nível do mar no Pico do Fogo, o ponto mais alto de Cabo Verde. Com 27 km de diâmetro, é um espetacular exemplo de uma ilha oceânica em escudo único. Trata-se de um vulcão, de forma quase circular, com uma cúpula de colapso que forma uma caldeira de deslizamento de 9 km de largura – Chã das Caldeiras – preenchida por vulcanismo intra-caldeira e que deu origem ao Pico do Fogo e vários outros cones periféricos. Chã das Caldeiras também é conhecido pelas paredes verticais da Bordeira, resultante do referido colapso, onde existe a principal colónia do Gongon (Pterodroma feae) desta ilha.

Na ilha do Fogo, o trabalho de conservação do Gongon está numa fase avançada de consolidação. No entanto, ainda há um importante desconhecimento das espécies e tamanhos populacionais das aves marinhas que estão a reproduzir-se nesta ilha. As espécies que nidificam no Fogo ainda estão sujeitas à captura e perturbação humana, à predação por gatos, ratazanas e ratos, à destruição de habitat e à poluição luminosa.

© Jacob González-Solís

© Teresa Militão

Santiago

A ilha de Santiago é a maior ilha de Cabo Verde e onde se localiza a capital do arquipélago, a Cidade da Praia. É uma ilha verdejante e com zonas montanhosas como o Pico Antónia e o Parque Natural da Serra Malagueta, onde o Gongon se reproduz. Também é na ilha de Santiago que se localiza a magnifica Baía do Inferno, com as suas enormes paredes verticais repletas de ninhos de Alcatraz e Rabo-de-Junco e onde possivelmente também nidificam outras espécies como a Cagarra, o Pedreirinho e o Pedreiro.

Na ilha de Santiago, ainda há um grande desconhecimento das espécies e tamanhos populacionais das aves marinhas que estão a reproduzir-se nesta ilha, e que ainda estão sujeitas à captura e perturbação humana, à predação por gatos, ratazanas e ratos e à destruição de habitat. 

© Teresa Militão

© Teresa Militão

Maio

A norte da ilha do Maio existe um pequeno ilhéu, ilhéu Laje Branca, com uma grande densidade de ninhos de Pedreiro-azul e onde provavelmente também nidificam alguns casais de Pedreirinho. Este ilhéu está dentro do Parque Natural do Norte da Ilha do Maio, é um ilhéu muito pequeno (0.05 km²), com uma elevação máxima de 5m e que está somente a 350m da ilha do Maio, sujeito a ameaças como a subida do nível da água do mar ou a introdução de predadores invasores.

© Teresa Militão

© Teresa Militão

Boa Vista

A ilha de Boa Vista é a que se situa mais a leste de todas as ilhas de Cabo Verde a apenas 455 km da costa africana, sendo a terceira maior ilha do país. Na ilha da Boa Vista existem 14 áreas protegidas, entre elas a Reserva Natural de Ponta do Sol e as Reservas Naturais Integrais dos Ilhéus dos Pássaros, Baluarte e Curral Velho, onde estão presentes as principais áreas de nidificação de aves marinhas nesta ilha. Nestas áreas protegidas nidifica o Alcatraz, o Rabo-de-Junco, a Cagarra, o Pedreiro-Azul e alguns Pedreirinhos. No ilhéu de Curral Velho foram registadas as últimas nidificações de Fragata em Cabo Verde.

© Jacob González-Solís

© Jacob González-Solís

Sal

A Ilha do Sal é a ilha mais turística de Cabo Verde, com praias de areia branca no extremo sul. Situada no extremo nordeste do arquipélago, Sal é uma ilha plana e semidesértica de origem vulcânica. O ponto mais alto é Monte Grande, de 406 metros, antiga cratera situada no norte da ilha junto a uma costa acidentada cheia de falésias. A Ilha do Sal conta com cinco Reservas Naturais e quatro Paisagens Protegidas, que incluem todas as áreas de reprodução de aves marinhas registadas até a data, e ainda conta com 2 Monumentos Naturais. Nos últimos dois anos, cinco espécies diferentes de aves marinhas foram encontradas a reproduzir-se na ilha, sendo o Rabo-de-Junco o mais numeroso, seguido do João-Preto, a Cagarra, o Pedreiro e o Pedreirinho.

Devido a um grande desenvolvimento, tanto turístico como social, todas as espécies de aves marinhas presentes na ilha são alvo de várias ameaças. A predação por cães vadios, a captura ilegal de adultos e crias, a perda de habitat e a poluição luminosa são as mais importantes. 

© Marcos Hernández

© Marcos Hernández

São Nicolau

A ilha de São Nicolau (343 km2) é uma ilha montanhosa pertence ao grupo Barlavento de Cabo Verde. A ilha tem o seu ponto mais alto situado a cerca de 1314 m, o Monte Gordo onde foi confirmada a presença do Gongon e do Pedreiro. Foi confirmada a presença de Pedreirinhos em elevada quantidade na Estância de Brás, na Ribeira Funda e em menor abundância no Morro Brás e perto do Juncalinho. Também nidificam Rabo-de-Junco na costa sureste da ilha. Tal como nas outras ilhas principais do arquipélago, em São Nicolau há também problemas com os gatos, que predam crias e adultos de aves marinhas nos ninhos e na sua chegada aos mesmos.

© Teresa Militão

© Teresa Militão

Ilhas Desertas

As Ilhas Desertas são constituídas pelos ilhéus Raso, Branco e pela ilha de Santa Luzia (a única ilha desabitada de Cabo Verde). A ilha de Santa Luzia é uma Reserva Natural Parcial, enquanto os ilhéus Raso e Branco são conjuntamente uma Reserva Natural Integral, sendo que para fins de gestão de conservação este complexo denominado de Complexo de Áreas Protegidas de Santa Luzia e ilhéus Branco e Raso (CAPSLBR). Este grupo de ilhas desabitadas localiza-se no grupo Barlavento de Cabo Verde, entre as ilhas de São Vicente e São Nicolau, ocupa uma área terrestre de 43.3 km2 (Vasconcelos et al. 2015) e uma zona de protecção marinha de 97.5 km2. São consideradas como das zonas mais ricas do arquipélago em termos de biodiversidade marinha (Bravo de Laguna 1985). Aqui reproduz-se um vasto número de espécies de aves marinhas e não marinhas, e outras espécies utilizam estas ilhas como pontos de paragem para se alimentarem e reabastecerem as suas energias para a migração (Hazevoet 1995).

A ilha de Santa Luzia com cerca de 35 km2 de área terrestre é uma ilha extremamente seca, é a menor ilha e a única desabitada do arquipélago. Das três ilhas que compõem o grupo das Desertas é a que se situa mais perto de São Vicente (localizado a oeste) e é também a mais heterogénea, possuindo montes na parte central da ilha, planícies rochosas na parte este e praia na região mais a sul (Vasconcelos et al. 2015).

No passado esta ilha terá sido local de reprodução de Cagarras, Pedreirinhos e muitas outras aves marinhas, no entanto, hoje em dia apenas se podem observar vestígios das suas colónias exterminadas por humanos e mamíferos terrestres introduzidos (gatos e ratos). Contudo, recentemente alguns Pedreirinhos foram observados, colocando-se a hipótese de uma possível recolonização desta ilha.

O ilhéu Branco localiza-se entre Santa Luzia e o ilhéu Raso e é o que possui a menor área terrestre, cerca de 2.8 km2, cujo ponto mais alto possui 327 m. É um ilhéu bastante montanhoso de difícil desembarque e acesso. Aqui reproduzem-se 5 espécies de aves marinhas de Cabo Verde: a Cagarra, o Pedreiro, o João-Preto, o Pedreiro-Azul e o Pedreirinho (Hazevoet 1995, Vasconcelos et al. 2015), no entanto, não existe atualmente uma monitorização regular dos ninhos destas espécies como nas outras ilhas das Desertas, muito devido à difícil acessibilidade deste ilhéu. O principal problema neste ilhéu é a destruição dos ninhos de Pedreiro-Azul por parte das tartarugas-marinhas que, ao tentarem vir a terra para desovar destroem os ninhos desta ave.

O ilhéu Raso com cerca de 5.8 km2 é o ilhéu mais oriental das Desertas, em Cabo Verde. É facilmente distinguível das outras ilhas deste grupo pois é bastante plano, tendo como ponto mais alto o Monte da Ribeira do Ladrão, virado para a ilha de São Nicolau, com cerca de 164 m de altitude (Vasconcelos et al. 2015). O ilhéu Raso é caraterizado como sendo bastante seco e árido, com ribeiras secas persistentes ao longo de todo o ano, tendo apenas água corrente aquando das chuvas por volta de Agosto-Setembro (Hazevoet 2001). É também nesta altura que a única ave endémica da ilha, a calhandra do Raso, se começa a reproduzir tirando partido da abundância de alimento oferecida pelas chuvas.

Para além da calhandra, outras aves nidificam aqui, principalmente aves marinhas. De todas as ilhas do grupo das Desertas, o ilhéu Raso é aquele onde se reproduzem mais espécies de aves marinhas, tendo atualmente uma população de Cagarras estimada em mais de 27.000 pares reprodutores e de mais de 8.000 pares reprodutores de João-Preto (Almeida et al. 2014). Para além destas duas espécies, outras quatro espécies de aves marinhas nidificam no ilhéu Raso: o Pedreiro, o Pedreirinho, o Rabo-de-Junco e o Alcatraz (Vasconcelos et al. 2015). O pedreiro, ao contrário da cagarra e do João-Preto que se reproduzem no verão, reproduz-se durante o inverno; já o Pedreirinho ainda não se sabe se apresenta duas épocas de reprodução, uma no inverno e outra no verão ou se apresenta uma época de reprodução alargada e assíncrona; o Rabo-de-Junco e o Alcatraz são espécies que se podem reproduzir praticamente durante todo o ano, no entanto, recentemente observámos que é no inverno que ambas as espécies atingem o pico da reprodução. Contudo, o número de espécies que vivem e escolhem o ilhéu Raso para nidificarem ou apenas como ponto de paragem não fica por aqui; nos últimos anos tem-se verificado a presença do Alcatraz-de-patas-vermelhas e, embora não se reproduza, pensa-se que venha para o ilhéu para a muda das penas.

No passado, as ilhas Desertas foram um local muito afetado pela tradicional apanha de Cagarra, quando os pescadores se dirigiam a estas ilhas para capturar crias de Cagarra, mas também de outras espécies que se reproduziam nas Desertas como o Rabo-de-Junco. Nos dias de hoje estas práticas estão proibidas, e graças ao esforço da Biosfera I as populações de cagarra têm vindo a aumentar (Vasconcelos et al. 2015).

Desde 2007 têm sido realizadas diversas campanhas de sensibilização por parte da Biosfera I que, para além disto, tem atuado também no local no controlo e monitorização dos ninhos de cagarra e das outras espécies que se reproduzem nas Desertas. Recentemente, com o projeto Alcyon para a Conservação das aves marinhas de Cabo Verde, iniciou-se uma campanha mais forte e ativa nas Desertas, principalmente na ilha de Santa Luzia (a com maior área e que sofreu mais danos na biodiversidade) onde se começaram a realizar campanhas de captura de ratos e gatos com uso de armadilhas. Para além da remoção dos animais introduzidos começou-se também a reintrodução da calhandra do Raso, que se pensa ter existido em tempos nesta ilha, mas devido a todos os impactos referidos acabou por ser extinta em Santa Luzia. No ilhéu Branco, irá ser iniciada a monitorização e seguimento dos ninhos de Pedreiro-Azul, bem como a instalação de ninhos artificiais e sistemas de atração para as aves se poderem reproduzir. No ilhéu Raso já têm sido monitorizados e seguidos os ninhos de cagarra e João-Preto nos últimos anos, principalmente do lado noroeste-sudoeste da ilha e do lado este do ilhéu (Ribeira do Ladrão) onde existe a maior densidade de ninhos. Os ninhos destas duas espécies, bem como de Rabo-de-Junco, Alcatraz e Pedreiro são seguidos para determinação da fenologia das espécies, parâmetros demográficos (captura-recaptura de aves) e também de sucesso da reprodução. Todas as aves capturadas são anilhadas e medidas as devidas biometrias (peso, asa, tarso) e as crias são seguidas para avaliar o seu crescimento e condição corporal no momento do abandono do ninho. As aves que se encontram a reproduzir são também seguidas com sistemas de localização (GPS) para determinar as suas áreas de alimentação e distribuição no mar e são recolhidas amostras biológicas como sangue e gordura para análise da dieta.

© Biosfera

© Biosfera

São Vicente

A ilha de São Vicente (227 km2) é a ilha onde se situa a segunda maior cidade de todo o arquipélago – Mindelo. A cidade de Mindelo localiza-se mais especificamente na Baía de Porto Grande e detém uma extensa rede portuária, visto que a pesca é uma das principais fontes de rendimento da população. Para além da cidade de Mindelo, também são importantes a zona do Calhau, e a Norte a vila de pescadores de Salamansa. Contrariamente a Santo Antão, São Vicente é uma ilha bastante árida podendo observar-se diversas ribeiras secas ao longo de quase todo o ano e, por isso a agricultura é apenas para subsistência (Hazevoet 1995). O ponto mais elevado encontra-se a 774m de altitude, o Monte Verde, onde foi confirmada a presença de Cagarras que se reproduzem nesta ilha, bem como a possível ocorrência de Pedreirinhos. Ao longo da costa de São Vicente também se podem observar Rabo-de-Junco que podem reproduzir-se nas falésias que rodeiam quase na totalidade a ilha. As principais ameaças às aves marinhas que se reproduzem em São Vicente são os gatos e os ratos que predam as crias nos ninhos.

© Joana Bores

© Joana Bores

Santo Antão

A ilha de Santo Antão é a maior do grupo Barlavento e simultaneamente a segunda maior ilha do arquipélago de Cabo Verde, com cerca de 779 km2 (Vasconcelos et al. 2015). É uma ilha muito montanhosa com extensas ribeiras permanentes que possibilitam a existência de áreas verdejantes durante todo o ano (Hazevoet 1995). A vertente nordeste da ilha está quase sempre nublada, devido à existência das montanhas que travam a passagem das nuvens, o que possibilita a ocorrência de chuvas que oferecem um clima adequado para o cultivo de frutas e legumes (Hazevoet 1995) que são depois exportados para outras ilhas que não possuem estas caraterísticas.

Nesta ilha, é possível observar e ouvir diversas espécies de aves marinhas como a Cagarra, o Pedreiro e o Pedreirinho na Barragem de Canto de Cagarra e no Paúl, bem como nas escarpas da Ribeira das Patas e na Ribeira da Cruz; nas falésias situadas entre o Tarrafal e Monte Trigo nidifica o Rabo-de-Junco, enquanto o Gongon prefere os pontos mais elevados da ilha, como por exemplo no Tope de Coroa (1979 m) e Ribeira da Cruz. Todos estes locais podem ser potenciais locais de nidificação destas espécies e, é nesse sentido que têm sido realizadas escutas desde 2018 para se obter estimativas populacionais das aves que estão a reproduzir-se nesta ilha.

As principais ameaças em Santo Antão são os gatos e os ratos que destroem os ninhos e predam as crias, mas também pescadores e habitantes locais (ex: Tarrafal) que ainda continuam a capturar crias de Cagarra e Gongon.

© Teresa Militão

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