Alcatraz
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© Jacob González-Solís
Nome comum: Alcatraz
Nome científico: Sula leucogaster
Estatuto de conservação mundial (IUCN): Pouco preocupante
Lista vermelha de Cabo Verde: Vulnerável
Endemismo de Cabo Verde: Não
Ordem: Suliformes
Família: Sulidae
Descrição morfológica e identificação
Os sulídeos apresentam peso entre 500 – 1800g, comprimento de asa entre 35 – 45 cm. A plumagem do Alcatraz adulto é branca na zona ventral inferior e de baixo da asa desde o centro até à margem. A margem inferior das penas apresenta-se em tons de castanho mais claro. Na zona dorsal, apresenta cor castanha na parte superior das asas, dorso, cabeça e pescoço, mas também na parte superior do peito (Schreiber & Norton 2002). O Alcatraz apresenta dimorfismo sexual, isto é, as fêmeas e os machos apresentam características morfológicas diferentes. Os machos têm patas de tom amarelo forte e as penas são mais escuras comparativamente às fêmeas, que apresentam patas de tom amarelo claro. O bico das fêmeas tem ponta rosada e uma mancha negra na parte anterior ao olho, enquanto os machos têm o bico todo amarelo e na base um tom azulado, principalmente ao redor do olho. Ambos apresentam garganta e loro (parte entre o bico e os olhos) nus, sem penas, apresentando o mesmo tom amarelado nas patas. Geralmente as fêmeas são maiores e mais pesadas que os machos (Schreiber & Norton 2002). As crias apresentam durante os primeiros meses de vida uma plumagem totalmente branca e à medida que vão crescendo vão nascendo penas castanhas escuras em todo o corpo expeto na zona ventral inferior na qual há uma mistura de penas acastanhas e esbranquiçadas. Para além disso, o bico nos juvenis é escuro com um tom azulado (Schreiber & Norton 2002). Em voo é possível identificá-los pelo seu grande tamanho, pela sua plumagem escura em contraste com sua zona ventral branca e pelas suas asas brancas com margem escura, pelo seu bico cónico amarelo.
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Alcatraz macho com cria
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Dois juvenis de Alcatraz (esquerda) e um juvenil de S. sula
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Alcatraz fêmea e cria
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Alcatraz macho em vôo
Distribuição
O Alcatraz (Sula leucogaster) encontra-se distribuído nas regiões tropicais dos Oceanos Atlântico, Índico e Pacífico (Grant et al. 2018). Em Cabo Verde, reproduz-se nos ilhéus Raso, Curral Velho e Baluarte, e também nas ilhas de Santiago e Brava (Hazevoet 1995, 2001, Vasconcelos et al. 2015). Normalmente podemos encontrá-los em zonas costeiras e de falésia. Fora do período reprodutor, o Alcatraz mantém-se ao redor das águas de Cabo Verde, sendo, portanto, uma espécie residente durante todo o ano. Durante a época de reprodução procuram alimento perto da costa (Morris-Pocock et al. 2010), mas pouco se sabe sobre as áreas de alimentação fora do período reprodutor.
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Mapa de distribuição do Alcatraz em Cabo Verde
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Viagens de alimentação de fêmeas (F) e machos (M) de Alcatraz
Reprodução e fenologia
É uma espécie que se reproduz em colónia, utilizando vários materiais para fazer o ninho, incluindo material de origem humana como cordas e plásticos. Apesar de se conhecer pouco sobre a sua fenologia em Cabo Verde, sabe-se que existe um pico de eclosão do ovo entre dezembro e janeiro e que é uma espécie assíncrona, ou seja, num mesmo período pode-se encontrar casais com ovo, outros com cria ou com cria já pronta a voar. Os indivíduos podem começar a reproduzir-se a partir dos 3-4 anos de idade (Schreiber & Norton 2002), mas varia sempre de indivíduo para indivíduo. O tamanho da postura é geralmente de 2 ovos, mas raramente se encontram ninhos com duas crias, sendo que a primeira cria a nascer elimina a segunda por competição pelo alimento (Anderson 1990, Baumgarten et al. 2001). O período de incubação dura cerca de 43 dias e o período de cuidado da cria varia entre 14 a 15 semanas. O macho e a fêmea partilham os cuidados parentais, geralmente ficando sempre um adulto no ninho com a cria enquanto o parceiro procura alimento, deixando a cria sozinha a partir dos 41 dias (Schreiber, E. & R. Norton. 2002). Ao contrário de outras aves marinhas como as Cagarras, os progenitores de Alcatraz alimentam frequentemente a sua cria, normalmente duas vezes ao dia, devido à proximidade da colónia às suas áreas de alimentação (Schreiber, E. & R. Norton. 2002). A cria voa do ninho depois de 95 a 120 dias após ter nascido, no entanto, os progenitores continuam a alimentá-la mesmo depois dela abandonar o ninho aproximadamente entre 3-8 semanas, até ser totalmente independente (Schreiber, E. & R. Norton. 2002).
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Ninho de Alcatraz com dois ovo
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Cria de Alcatraz
Alimentação
O Alcatraz procura alimento durante o dia em áreas perto da costa. As viagens de procura de alimento são geralmente curtas e regressam sempre à colónia geralmente ao fim do dia, podendo fazer mais do que uma viagem por dia (Schreiber & Norton 2002). Procura alimento de forma solitária ou em bando, podendo por vezes ser encontrado em bando com outras espécies, como Procellariiformes ou outros sulídeos (Schreiber & Norton 2002). Estes bandos muitas vezes formam-se quando grandes peixes predadores, como por exemplo atuns, empurram pequenos peixes epipelágicos para a superfície ficando mais acessíveis para as aves marinhas, como o Alcatraz. Os sulídeos também são conhecidos por seguirem os barcos de pesca para conseguirem alimento. Alimenta-se principalmente de peixe, sendo as suas presas principais o peixe-agulha e o peixe-voador (Schreiber & Norton 2002).
Muda
O Alcatraz geralmente só adquire a plumagem de adulto entre o quarto e o sexto ano de vida. Nos primeiros anos de vida (1-3 anos), os Alcatrazes imaturos fazem uma muda gradual, perdendo as penas de tons acinzentados e ficando com os tons castanhos da plumagem adulta na zona dorsal e ganhando gradualmente a cor branca na zona ventral, parte inferior do peito. Este processo gradual também ocorre na muda das penas de voo (asas e cauda), assim os imaturos vão mudando as suas penas gradualmente até atingirem os 4-6 anos de idade a plumagem adulta. Quanto aos adultos a sua muda é realizada de maneira semi-contínua, no entanto suspendem a mudas das penas primárias (asa) e rectrizes (cauda) durante o período reprodutor desde a chegada à colónia até ao final da incubação, só retomando a muda depois da cria nascer (Demongin 2016, Schreiber & Norton 2002).
Vocalização
As fêmeas e os machos apresentam vocalizações diferentes. As vocalizações dos machos assemelham-se a apitos, enquanto as fêmeas são similares a buzinas. As vocalizações dos juvenis são similares às das fêmeas (Schreiber & Norton 2002).
Alcatraz
Principais ameaças
A nível mundial, o estatuto de conservação do Alcatraz está atualmente classificado como pouco preocupante (LC) pela IUCN, no entanto, os seus números têm vindo a decrescer (Birdlife International 2018). As principais ameaças a esta espécie são predadores introduzidos como gatos e ratos, que predam os ovos e as suas crias, mas também a captura humana (Hazevoet 2001, Schreiber & Norton 2002). Em Cabo Verde, o tamanho populacional desta espécie tem também diminuído nas últimas décadas, devido principalmente à captura humana (Hazevoet 2001, Schreiber & Norton 2002, Vasconcelos et al. 2015). Por exemplo, esta espécie já não se reproduz nos ilhéus Rombo devido à forte captura humana. No entanto, predadores invasores como cães, gatos e ratazanas e predadores naturais como os corvos, podem predar as crias e os ovos dos alcatrazes. Desconhece-se ainda o impacto que a interação com as artes de pesca possa ter no Alcatraz em Cabo Verde, no entanto, já foi encontrado um individuo emaranhado numa linha com anzol e encontram-se frequentemente materiais provenientes da pesca nos ninhos do Alcatrazes.
Imagens
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